O Deserto dos Tártaros (1940)

Se a música Time, do Pink Floyd, fosse um livro, seria certamente o romance “O Deserto dos Tártaros”, do italiano Dino Buzzati. Na obra, acompanhamos a trajetória de Giovanni Drogo, um jovem recém-formado tenente destinado a um posto remoto: o Forte Bastiani. Drogo personifica o arquétipo da juventude: nutre delírios de grandeza e anseia por realizar algo magnânimo que dê significado à sua existência.

Contudo, ao chegar ao Forte Bastiani, as expectativas de glória de Drogo colidem com a melancolia de um posto fronteiriço esquecido e estagnado. Logo nos primeiros dias, ele encontra em seus colegas figuras institucionalizadas — sombras dos homens que um dia foram, agora tão habituados àquele isolamento que perderam qualquer perspectiva de vida além dos velhos muros.

Inicialmente, Giovanni deseja urgentemente fugir daquela estagnação e do desespero mudo. Porém, sem perceber, torna-se refém das circunstâncias e da traiçoeira promessa da juventude de que “o melhor está sempre adiante”. O que se segue, nessa mistura de sonhos e monotonia, é uma demonstração visceral da implacabilidade do tempo.

Dia após dia, hipnotizado pela rotina ritmada da guarnição, a vida de Drogo é consumida. Seus anos dourados tornam-se apenas lembranças angustiantes de um potencial nunca realizado, numa eterna espera pelo “grande dia” que nunca chega. O romance de Buzzati funciona, assim, como um “chacoalhão”: um alerta para que o leitor não desperdice a vida aguardando um momento ideal. Se esperamos demais para começar a viver, inevitavelmente, viveremos nossa própria versão da música de Pink Floyd: percebemos tarde demais que o sol é o mesmo, mas nós estamos mais velhos. Não há o grande momento; o único tempo que possuímos é o agora.


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